“(...) nunca uma sociedade
se revela tão bem
como quando projeta para trás de
si
a sua própria imagem.”
(Charles-Oliver Carbonnel –
Historiador, 1981)
Os
30 mil hectares de terra adquiridos pela empresa norte americana Angelo Fiorita
& Cia., pela sua filial na cidade do Rio de Janeiro, em 1890, posteriormente
administrada pela Companhia Metropolitana, para materializar a colônia Nova
Veneza em 1891, tinha seu território dividido entre o limite dos municípios de
Araranguá e Tubarão, no sul catarinense. Levando-se em conta que a localidade de
Araranguá teve sua criação datada de 04 de maio de 1848, é de se supor que,
independente do surto imigratório, as terras próximas aos rios e montanhas da
futura colônia, com todos os seus atrativos naturais, habitat natural dos
índios Xokleng e passagem dos tropeiros, foram ocupadas, lentamente, por
brasileiros.
Na
relação de imigrantes que entraram na Colônia Nova Veneza, de propriedade da
empresa colonizadora Companhia Metropolita, também, citada pelo escritor Zulmar
Hélio Bortolotto,[1]
pode-se constatar, notadamente, na Seção Rio São Bento a presença de brasileiros,
bem antes da chegada dos europeus. Varias famílias brasileiras ou ocupantes isolados já viviam na região onde foi instalada a
Colônia Nova Veneza, num convívio com os índios Xokleng, que ocupavam esse
território entre o mar e a Serra Geral.
Nomes
dos brasileiros já instalados nas terras que comporiam a Colônia Nova Veneza
estão nos livros de registro do empreendimento, devidamente catalogados pelo
escritor Zulmar Hélio Bortolotto, tais como: João Cunha, casado com Luigia;
Fernandes João; Henrique Antonio;[2]
Manoel Lacerda José; José Machado Izaquiel e suas filhas Antônia, Maria e
Candinha;[3]
Luiz Faustino; Glaucir de Moura Valencio, casado com Josina e seus filhos
Camilo, Otavia, Januaria, Amantino, Honorata; Maria Valencio; [4]Reginaldo
Gardinho; Pereira Barbosa Agostinho, casado com Bernardinha e seus filhos
Antonio, Manoel, Maria, Mariano, Indalina, Josepha, Candida, Clara, Antonia e
Filomena;[5]
J. Vieira Saturnino, casado com Julia e seus filhos Matteo, Valentino, Talles,
João e Maria; Antonio da Silva João, casado com Claudina e seus filhos Candido,
Patrocinia, Maria, Giustina, Alberto, Firmina, Saturnina e Paola; Savi Celeste;
Angelo Padilha Manuel; Antonio Manuel;[6]
Thomaz de Amorim; Roque de Azevedo Velho Roque; Ignacio Pacheco dos Santos; Gregorio
Gonçalves Padilha e Caetano da Silva Tavares.[7]
Famílias invisíveis em todo o processo de ocupação e formação de Nova Belluno –
Siderópolis (SC), que ora são reconhecidas como participantes importantes da
nossa história.
A
maioria desses brasileiros trabalhou sob as ordens de Federico Antonio Selva,
topógrafo e agrimensor responsável pela organização dos lotes e Seções e
Núcleos do empreendimento, entre dezembro de 1890 e abril de 1891, e mais
tarde, com uma das recompensas pelos seus préstimos, estes pioneiros de origem
açoriana e negra receberam lotes no Núcleo Jordão e Seções como Rio São Bento e
Rio Selva localizados nas proximidades do Costão da Serra, dando origem
posteriormente às localidades de Serrinha, São Pedro, Costão e São Bento Alto.
Selva comandava 4 grupos de trabalhadores, possivelmente em torno de 150
homens, o que supõe-se que muitos depois se espalharam pelas terras, voltando a
Jaguaruna, Imbituba, Tubarão, Laguna, de onde provinham, ou estabelecendo-se em
terras devolutas, com exceção dos mencionados e beneficiados com propriedades.
Outra
etnia que foi colocada à margem da história foi a da nação aborígene Xokleng. Estes
primeiros habitantes da região das proximidades da Serra Geral foram perseguidos,
desde o inicio da colonização europeia no sul catarinense em 1875, até sua
extinção regional. De forma precisa o historiador Mauricio da Silva Selau
relata o confronto tramado pelo governo brasileiro, ao disponibilizar terras
indígenas aos imigrantes, na criação de diversas colônias no sul catarinense.
(...) o
extermínio do grupo Xokleng no Sul Catarinense e a consequente espoliação de suas
terras foi possível devido à política indigenista do século XIX que previa
“guerra” aos botocudos, entre os quais estão incluídos os Xokleng. Esta “guerra”
serviu de terreno para a construção de representações sobre este grupo indígena
que será apropriada pelos imigrantes e externado por meio do termo “bugre”, que
classificava os indígenas como incapazes de convívio com a sociedade da qual os
imigrantes faziam parte. Surge, portanto, as justificativas para as ações que
foram desenvolvidas, visando a garantia de segurança nas colônias, ou seja, o
trabalho dos bugreiros, que consistia no extermínio dos Xokleng, com aval das
autoridades constituídas.[8]
Também buscamos na dedicatória do
livro - Os Imigrantes no confronto com os
donos da terra, os Índios - de 1991, do Monsenhor Quinto Davide Baldessar,
o resultado do relacionamento entre o imigrante e o índio que vivia na região:
Dedico
o presente opúsculo aos amigos da verdade no que se refere à convivência e aos
atritos criados entre os Imigrantes e os legítimos Donos da Terra, os Botocudos,
que tanto foram injustiçados pelas estruturas vigentes quanto pelos próprios
ádvenas que com eles tiveram que se defrontar por todos os modos e que deu como
resultado a derrota do mais fraco e o fim da presença do primitivo proprietário
das terras disputadas, o Índio.[9]
Visualizar a importância de todas as etnias
que contribuíram com a formação da nossa cidade é conhecer a nossa historia, notadamente
os primeiros ocupantes das terras os índios Xokleng e os brasileiros aqui
vivendo antes dos imigrantes europeus. No período eufórico da extração do
carvão mineral, o município contou com a mão de obra importante dos açorianos,
alemães, negros e polacos e outras etnias.
Na
história tradicional é comum a afirmativa de que os imigrantes italianos foram
os pioneiros na ocupação da Colônia Nova Veneza. É uma visão errônea e
ultrapassada a afirmação daqueles que se aventuram a escrever a história
regional de um empreendimento colonial particular que floresceu somente com o
trabalho dos colonos imigrantes.
Nilso Dassi - Licenciado e Bacharel em
História pela Unesc e neto de italianos.
Com a colaboração importante do escritor
Ronaldo David.
Primavera 2015.
FONTES
BIBLIOGRÁFICAS CONSULTADAS:
BALDESSAR, Quinto
Davide., Monsenhor. Os imigrantes no
confronto com os donos da terram os índios / Nova Veneza: Ed. do Autor,
1991. 69p.
BORTOLOTTO, Zulmar
Hélio. História de Nova Veneza /
Zulmar Hélio Bortolotto. – Florianópolis: 2. Ed. Insular, 2012. 416p.
SELAU, Maurício da
Silva. A ocupação do território Xokleng
pelos imigrantes italianos no sul catarinense (1875 – 1925): resistência e
extermínio / Maurício da Silva Selau. – Florianópolis: Bernúncia, 2010.
192p.
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