Em uma entrevista feita com a nona no dia 15
de março 2015 um domingo pela manhã na sua casa junto com as tias Dinha e Natalina
nos rendeu muitas risadas e emoções ouvindo a nona contar um pouco da sua
história. E o que escrevemos vem desta conversa marcante.
A data do nascimento da nona é um pouco
difícil de saber realmente qual é a correta. Seus documentos rezam 13 de julho
de 1925, mas conta a filha Lídia que a mãe da nona sempre contava que Alice
nasceu no dia 13 de abril e registrada exatamente 03 meses depois em 13 de
julho. Então obedecemos os documentos e resolvemos comemorar em julho.
Seus pais são Batista Salvador e Silvia
Padoim Salvador. Irmã de Eliza, Helena, Jacinto e João, hoje todos falecidos.
A nona começou a ficar mais contente quando
começamos a conversar sobre quando ela conheceu o nono Francisco. Conta ela que
se conheceram na praça de Treviso em um domingo e ele resolveu acompanha-la a
pé até a sua comunidade em Santo Antônio (que diz ela não ser assim tão longe
para ir a pé). Chegando lá ele despediu-se dela, cortou caminho pelo morro e
foi embora para sua casa na Guanabara.
Dai em diante os encontros começaram a se
tornar mais frequentes até que resolveram iniciar o namoro que durou mais ou
menos 02 anos. Neste período aconteceram algumas coisas engraçadas como um dia
que ele foi namorar e amarrou o cavalo embaixo da casa. Assustado com a chuva o
cavalo ficou bravo e começou a pular e fazer barulho que mais ninguém da casa
conseguiu dormir naquela noite. E mesmo com o cavalo incomodando a família
inteira, o nono só saiu de lá quando bateu o sino das 06 horas da manhã na
igreja!
Outro caso foi também num dia que o nono foi
lá na casa da nona para namorar e na época se usava muito a brigantina nos
cabelos. Mas na correria para sair de casa e chegar cedo nacasa da namorada o
nono saiu com os cabelos molhados e com esta brigantina. Quando chegou na casa
da nona, sentou-se encostou a cabeça na parede e a marca da brigantina nunca
mais saiu da tábua!
Diz a nona que poderiam ter casado antes, mas
ela não quis porque na época o nono Francisco servia o exército, foi soldado durante
25 meses e ficava muito tempo fora de casa longe da família e não era isso que
ela queria. Preferiu esperar até que ele fosse dispensado para depois se
casarem. Disse ela que o nono contava muitas histórias do quartel e que lá ele
passou de tudo. Ele até já havia sido convocado para a guerra, mas na última
semana foi suspenso. Ainda bem né?!
Passando tudo isso em 03 de outubro de 1947 Alice
e Francisco uniram-se em matrimônio na Igreja de Santa Terezinha na comunidade do
Rio Dória à tarde em um casamento comunitário, já que se tinha que aproveitar o
dia quando o padre vinha o que não era muito comum, ou deslocar-se até
Urussanga.
Quem celebrou o casamento foi o padre Luiz
Zilli. E não vão pensar que naquela época se tinha carro para ir aos casamentos
não! Os noivos foram à cavalo.A festa foi na casa dos pais do noivo. Lembra a
nona que a cozinheira foi Eliza Baldin Feltrin a professora da comunidade.
Lembrou-se ainda que houve baile até as 03 horas da manhã e o gaiteiro foi
Fermínio Gamba.E os presentes nona? São como hoje que deixamos lista em lojas e
ganhamos de tudo? Nãããão! Os presentes que ganharam foram: 02 jarras de vidro,
01 bandeja e 02 xícaras.
Durante dois anos morou com seus sogros e
depois conseguiram construir sua própria casa.Da união nasceram 09 filhos sendo
a primeira chamada Íria que faleceu com poucos meses de vida. Depois vieram
Lídia, Ivo, Natalina, Doraci, Salete, Fátima, Izidero e Lina.
A nona contou que trabalhou muito, muito
mesmo! Que passou de tudo na vida em questão de trabalho e de ajuda as pessoas.
Não tinha hora para levantar e nem para dormir. Normalmente levantava 03 horas
da manhã para fazer a comida edepois sair para trabalhar na roça e cuidar dos
animais. Além da agricultura a família ainda tinha que cuidar da serraria, da
atafona e do engenho. Dos alimentos compravam farinha de trigo em troca da
farinha de milho que fabricavam na atafona da família. Vendiam cachaça,
fabricavam o açúcar e o que a nona mais gostava era de comer o aipim que
colocavam dentro do açúcar quando estavam fazendo no engenho.
Um dia a nona salvou o seu sogro que depois
de ter bebido um pouco além da conta quase caiu no fogo do engenho e se não
fosse ela chegar a tempo poderia ter acontecido uma tragédia.
Depois
de alguns anos que a serraria, o engenho e a atafona estavam funcionando veio
uma enchente muito forte e carregou tudo o que haviam trabalhado e lutado tanto
para construir.
Na roça era tudo manual debaixo de sol a sol.
E com tudo isso para fazer e cuidar, a nona ainda lavava roupas para os outros
e sabe porque ela era tão procurada? Porque gastava pouco sabão e cobrava pouco!
Quando perguntei a ela: Nona e o que foi bom
em tudo isso? Em tudo o que a nona já viveu até hoje? Ela me respondeu: ter
conhecido o nono, ter tido meus filhos, ter cuidado da atafona e do engenho,
ter tirado bastante leite das cabritasque tinha mesmo sendo bravas, sempre tive
sorte na criação dos animais e nas plantações, nunca ficávamos sem comida em
casa porque plantávamos de tudo. Tanto que muitas vezes precisávamos fazer
muitas viagens para carregar tudo. Lembrou ela de quando transportavam o chuchu
e as abóboras com a junta de bois Pintado e Bonito.
E depois de ver a família constituída, os
filhos casados, aposentada, sem ter mais aquele compromisso de trabalhar e
garantir o sustento da família o que a nona passou a gostar mais de fazer? De limpar
o pátio, carpir o quintal, varrer as folhas e acreditem se quiser: de pescar!
Ela nunca se esquece de um dia que foi pescar no Pesque e Pague do Sóvi e ouviu
dois homens dizendo: “imagina se aquela noninha ali se vai pegar alguma coisa”!
E não é que quando ela colocou o anzol veio um peixão?! Eles ficaram
impressionados! Mas para contrariar ainda disseram: “também ela tem açude em
casa deve pescar direto, já esta acostumada”! Mas não vão pensar que ela tem
muita paciência hein! Se não vem peixe ela larga tudo também!
E para finalizar perguntei a ela: que
mensagem a nona nos deixa? E ela respondeu assim: “que todos tenham sempre
muita saúde, trabalhem para conquistar as coisas e não precisamos de muito
dinheiro para sermos felizes. Ajudem sempre a igreja e nunca percam a fé.
Mantenham-se sempre unidos e procurem se dar bem com todos!”
Obrigada nona por ser essa pessoa maravilhosa
para nossa família e por todo o seu exemplo e sabedoria passado aos seus 08
filhos que com o passar do anos lhes deram mais 02 noras, 05 genros, 25 netos e
10 bisnetos. Que Deus reserve ainda muitos anos de vida a nona para daqui a 10
anos estarmos aqui novamentecomemorando os seus 100 anos!
Fotos: Edson Luiz Sandrini
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